segunda-feira, 9 de junho de 2008

1. Anjos

1-Bianca van der Welf; 2-Ansel Olson; 3,6,8- Jenni Penni; 4-Yves Marchand; 5-Wim Wilders; 7-Lylia Corneli; 9-Honeypieliving; 10,14,15,16,19-Fabien Barral; 11-Patrick Desmet; 12-Fokko van der Straaten; 13,22-Debbie Gosselink; 17-Holysloot; 18-Alexander Paulin; 20-BlackDogDesigns; 21,23-Frederico Errera
"Doem-
-nos
asas
que
não
temos
..."
Victor Matos
e Sá
"Dizem que demónios nos habitam e eu acredito ser assim, embora comigo tudo se passe de uma outra forma.
Quando conhecemos os demónios dos outros, desde crianças ou desde sempre, são anjos que nos habitam. Reconhecemo-los quando os vemos pela primeira vez, no meio da multidão, num café cheio de gente ou, muito simplesmente, passeando sózinhos pela rua.


O anjo que me habita transborda de ternura e não o sabe. Transborda de ternura e agoniza. Está encurralado e é sereno. Encurraladamente sereno, transbordante de ternura. Um homem só, transbordante de ternura e dos demónios dos outros. Um anjo, portanto.

Um dia disse-lhe que o seu jeito é de maré baixa e que havia muita bondade na linha do seu olhar. Nunca lhe disse que a bondade do seu olhar é feita de azul. Como o mar. Já lhe disse que a sua presença é como a sombra de uma grande árvore. Apetece encostar, ouvir o silêncio da terra e ficar. Sim, ouvir o silêncio da terra. Há quem traga o silêncio da terra no bater do coração.

O anjo que me habita, não sabe que a beleza do meu olhar é apenas o reflexo do seu olhar no meu. O meu anjo não sabe sequer que é anjo. Como poderia? Não sabe que o é, nem na forma como caminha. Sem som, sem deslocação de ar, sem sombra. Quando o sinto, olho e já ali está, vindo do céu. Só eu sei que tem asas. Sei-o desde a primeira vez que o vi. Porque farejo demónios, é-me fácil ver anjos.

O meu anjo ainda não sabe que os demónios que o habitam não são seus. Não sabe que há quem queira ser demónio e quem não queira. Que mesmo que apeteça encostar, ouvir o silêncio da terra e ficar nessa bondade feita azul mar, há sempre o perigo de nos transformarmos num demónio na vida de quem mais gostamos, quanto mais não seja pela convivência ou por tácticas de defesa. É verdade, há quem se recuse a tal, há quem só queira ser uma coisa boa. Que é a única forma de se ser quase tudo na vida de alguém.

Por agora o meu anjo nada sabe sobre todas estas coisas. Mas um dia o meu anjo vai saber que é anjo. Saberá que está só, que sempre esteve só, que os demónios que trazia dentro de si e à sua volta, não lhe pertenciam. Saberá que é verdadeiramente sereno, realmente transbordante de ternura. Lembrar-se-á que alguém lhe disse, sem palavras, que a bondade do seu olhar é feita de azul, como o mar. E que tem asas.

Nesse dia, o anjo que me habita vai ser feliz. Como é suposto serem todos os anjos.

P.S. O meu anjo também não sabe que eu o habito. O meu anjo é uma casa grande cheia dos demónios dos outros. Sem espaço para mim."
Eyes of China Blue

1,5-Ansel Olsen; 2-Honeypieloving; 3-Alexander Paulin; 4,7-BlackDogDesigns; 6-Elena Baca, 7-Jenni Penni;8- ThorMentor



De cara a la pared, Lhasa por Rudolfo Arevalo

4 comentários:

  1. Provavelmente o Post mais bonito que alguma vez vi. Não digo mais porque o resto já tu viste... tocaste no azul do meu mar e agitaste as minhas mares de felicidade.

    Amo-te mesmo muito, bebe.

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  2. Desde pequenos confundimo-nos entre anjos e demónios, acredito que bem dentro de alguns de nós haja uma eterna luta, afinal o que é que nos compõe? O que é que faz de nós ser e existir?
    Pelas tuas palavras numa manhã cinzenta um imenso obrigado e um grande beijo

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  3. Se calhar o que faz de nós ser e existir é a hipótese da escolha consciente (ou a recusa) entre sermos anjos ou demónios. Poderá até ser uma magnífica e maravilhosa batalha dependendo do ângulo com que a vejamos...
    Obrigada tu por me teres ouvido e mas teres permitido dizê-las; a manhã pode ter sido cinzenta mas as pessoas que lá se encontravam são feitas de muitas cores... Faz com que valha a pena acreditar quando já se desacredita. Obrigada também pela tua visita. Espero proporcionar-te bons momentos de prazer ou motivo para divagações interiores, quem sabe?
    Sê bem vinda e um abraço!

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  4. Tiago, para ti todas as cores que me saibam a azul. Por ti, todas as ondas e todas as marés; deixa-as vir, estarei aqui a teu lado. Obrigada pela aprendizagem constante. E por esta viagem incrível que tem sido estar contigo.

    Amoro-te, ternura!

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