quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

1. O dia dos namorados, segundo os homens


"Éramos tão felizes! Porque é que tu choravas tanto?"





Uday Shinde
" "No fundo", disse minha esposa no fim de uma discussão durante a qual destruímos duas divisões da nossa casa, "o que eu quero é que tu faças, de livre vontade,aquilo que eu espero que faças, mas sem ser preciso eu dizer-te".
"Ah!...", respondi eu, caindo inerte sobre a cama, com o pescoço esticado sobre a almofada, não fosse algum carrasco passar por lá com um machado e fazer-me um favor.
"No fundo", respondi acintosamente, "o que eu quero é que tu não queiras absolutamente nada, nunca, em circunstância alguma- a tal ponto que tivesses de vir ter comigo para me perguntar o que é que havias de querer".
"Nazi!", disse ela."Nazi és tu". "Eu ao menos digo o que penso". "Como o Hitler". "Cala-te", disse ela, atirando-se para a cama, "O Hitler era como tu- mentiroso e enganador e...". "E quê?". "Esquece", disse ela, "Dá-me um beijo".
Ele deu-lho. "O que é que ias dizer que o Hitler era?" "Uma estupidez...", disse ela." Diz!" "Ia dizer que o Hitler também era um mau marido!" "Como é que podes dizer isso de um homem que matou milhões de pessoas?" "Tu é que insististe..." "Como é possível?" "Pensa naquela pobre mulher." "Como é que ela se chamava?"
Abraçámo-nos. "Eva", disse ela. Começámos a despir-nos. "Eva quê?", perguntei. "Eva Grundig." "Krups!" "Siemens!" "Blaupunkt!", gritei, empurrando o dedo contra o umbigo dela. "Eva Moulinex!" "1,2,3..." "Vou fazer-te em picadinho...", disse ela. "Ai faz!", pedi. "Queres?", perguntou ela. "Faz!"
Ela levantou-se. Estava nua. "Porque é que és sempre tao ansioso? Agora não me apetece..." "Anda lá..." "Julgas que é só ligar e desligar? Não sou nenhum electrodoméstico." "E eu?", perguntei eu. Ela tirou o vibrador do armário e atirou-mo. "Tu és!" Atirei o vibrador para o chão e comecei a zumbir-lhe o pescoço e a fazer Bzzz...bzzz...bzzz... Ela suspirou. Sorriu. Corou. "Estás a ver como tu sabes?"
Ainda tive tempo de reiterar a acusação principal antes de ser soterrado. "Nazi!" "Ai sim, sim...assim sim..." "Confessas?", perguntei. "Sim", respondeu ela, "confesso que sim." "

"Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem que haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo".
Miguel Esteves Cardoso



I've been loving you too long, Ike and Tina Turner

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