sábado, 8 de março de 2008

O Dia da Mulher









"Acreditem, nunca percebi o porquê da existência deste dia. Não faço ideia.
Mas como tudo na vida, gosto de tentar entender.

Será que este dia é como o Natal, e consequentemente, num estado mais avançado de análise, poder-se-à dizer que é quando um homem quiser, especialmente se for o marido? Pois, não sei. Talvez num estado bem mais avançado ainda, seja um osso atirado assim como não quer a coisa, mas um bom osso, diria até mais, um bom pedaço de entrecosto assado, com direito às melhores pimentas e vinha-d'alhos. Ou um dos melhores bombons comprados no shopping da esquina; o bombom não interessa desde que o papel que o embrulha seja dos mais bonitos da montra e que faça um vistaço. Pois, também não me quer parecer, é um pouco rebuscado.
E porque será que é um dia fixo? Tanta coisa, tanta coisa, mas calha sempre no mesmo dia, tal como as grandes limpezas ao sábado e o passar a ferro domingo à noite. Como noutra comemoração qualquer, a famelga espera uma refeição aprimorada e especial, com direito a sobremesas, várias, já que é dia de festa. Injusto, muito injusto. Cá para mim, antes de escolherem este dia, fizeram um estudo com direito a gráficos e equações de modo a pouparem a nação e os chefes de família a desvarios femininos e consequente esquecimento de tarefas domésticas. Uma grande conspiração, é o que isto é, em forma de rosa, daquelas mais vulgares, ou uma caixinha de ferreros-rocher comprada à pressa no pingo doce.
Juro que não percebo. Além do mais, acho uma brutal falta de consideração. Isto brada aos céus. Gostava de poder festejar o Dia do Homem, caso existisse. Quem foi o palerma que se esqueceu? Todos os homens? Todos os governos? Todas as organizações de luta para a libertação destes e daqueles? Francamente! E eu que gostava de ler coisas maravilhosas nos jornais e nas revistas
da especialidade, talvez colocar uma notinha de rodapé no record com uma mensagem daquelas mesmo bonitas, chegar a casa com braçadas de flores, fazer uma festa surpresa numa daquelas discotecas rascas dos arredores da cidade, com direito a strippers carregadas de celulite e derrames, a abanarem descoordenadamente o rabo ao som da voz sussurrante de algum cantor pimba a imitar um júlio iglésias agonizando de tanto amor...
Não há direito. E o pior é que pareço a única a reparar nestas coisas. Não hão-de os homens andar de trombas. E como seres solitários que são, pouco dados a conversas e a desabafos, lá se vão aguentando como podem, uma amante a mais ou a menos, mais olho negro ou não, que diferença faz?, o dia deles não existe de qualquer das maneiras! Não se lhes devia fazer tal coisa, que eles não merecem.
Mas eu vou remediar isto, oh se vou! Não há Dia do Homem mas há Dia da Mulher e agora já tudo faz sentido. À falta de opções, estava para ir a uma daquelas festas com 500 mulheres histéricas que nunca saiem de casa, é claro que ia levar os phones e o Mp3 e rezar a Deus para que o polvo com batatas a murro valesse a pena. Teria que aturar um gajo qualquer a dançar, daqueles que são uma nódoa na cama de tão grande que é o ego, embrulhados numa daquelas tangas que parecem as minhas em dias de festa ou no faz-de-conta-que-estou-na-fernão-de-magalhães. Resta-me a esperança de saber que em alguns restaurantes o pudim molotoff é bem servido, para compensar o facto das claras serem quase o único ingrediente, e possa durar o tempo do strip.
Vou sim, quando ele chegar hoje a casa, vou dar-lhe um beijo daqueles de cinema, década de 50, e vou-lhe dizer para ir tomar um bom duche para descontrair. Como não aceitam notinhas de rodapé deste género no record (e mesmo que aceitassem, ele não lê), vou comprar uma cartolina A4 de cor berrante mas não foleira, e pô-la no espelho para quando ele for acertar os pelos da barba. Até já sei o poema, adoro, é da Hilda Hilst, vejam se concordam:


Porque há desejo em mim,
é tudo cintilância.
Antes o quotidiano, era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo.
E que descanso me dás

Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.

Pensei subidas onde não havia rastros.

Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

Sei que irá sair mudo da casa de banho sem saber o que lhe está a acontecer. Já o estou a ouvir a engolir em seco. Coitado, nem sabe o que o espera. Levá-lo-ei até à sala, onde terei um belo jantar, com direito a tudo o que mais gosta, só para ele, com muito mimo. E antes que a refeição comece, deixarei cair discretamente um talher debaixo da mesa...que irei apanhar...

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?"

Eyes of China Blue

Surprise Housewife Strip, Amazing Ballet & Pole Show

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