sábado, 1 de março de 2008

O rancor e as rugas

Pimm van Mourik

"Os homens, minha querida mãe, ao menos aqueles que tenho conhecido, não cultivam a memória. Há vantagens nisto, sabes?, os homens sempre me pareceram muito menos rancorosos do que as mulheres. O rancor exige uma boa memória. Um homem que nunca sabe onde deixou a chave de casa, os óculos, ou o telemóvel, e, são quase todos, deve ter também alguma dificuldade em guardar rancores. Acho que é por isso que, de uma forma geral, os homens envelhecem menos rapidamente do que nós. O rancor provoca rugas. Tira brilho ao cabelo. Torna as unhas quebradiças. A longo prazo, mata. Se bem que a longo prazo tudo mata.
Devíamos periodicamente recorrer a uma espécie de cerimónia do olvido, como quem vai à sauna, para limpar a alma das lembranças más. O amor e o rancor são difíceis de conciliar. Guardar um e outro no coração, e esperar que resulte, é como encerrar numa mesma jaula um leão e um cordeiro e esperar que o cordeiro submeta o leão. O pior é que depois que tudo termina os homens partem, felizes e desmemoriados, e nós ficamos sózinhas com o lume amargo do nosso rancor."

Faíza Hayat

I will survive, Petra Magoni

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