Lydia Corneli
"Há dias assim. Há dias em que há dias assim. Há dias em que os dias são dias assim.
Há dias em que nada nos surpreende ou nos comove. Ao longe, perto, ouve-se apenas um pássaro. Dentro de nós não se ouve nada. Podíamos fazer parte da paisagem que ninguém notava. Nem nós. Sermos um pedaço de árvore ou uma colina, ou vento apenas.
Há dias em que já não tropeçamos em nada, já não há nada em que tropeçar. Dias em que já nem sequer caímos, já não há mais para onde cair. Dias em que já não há nada a ganhar e já não há nada a perder.
Lembras-te de mim, amor?
Há dias assim em que no nada, tudo fica dito. Em que retornamos ao ventre sem ter a palavra ainda aprendida e em que já nem os olhos se movem de espanto. Melhor fechá-los e repousar em silêncio, na ferida.
Há dias assim, em que já não me sofro. Dias em que já nem sangro, sou nódoa negra. A alma, dormente. Serena. E as mãos tombam no regaço, esquecidas e perfeitas.
Onde estavas tu nesses meus dias assim, amor?
Porque não me pegaste ao colo?
Que me fizeste tu, amor?"
Eyes of China Blue
November, Azure Ray
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